Esperar arde. O meu corpo parecia pegar fogo, pateticamente inerte, jogado no sofá. A vontade era de me atirar em qualquer buraco, correr os riscos, me aventurar. Faltava-me coragem, entretanto. Era mais fácil ficar ali, parada, olhando o momento passar. Eu sabia que isso me daria tempo de manipular as circunstâncias ao meu redor. Poderia pensar com mais clareza, planejar as palavras, a arte da gesticulação e imaginar detalhe por detalhe. Arrumar o que fazer naquele instante só me aborreceria. Tentaria, pois, fazer um zilhão de coisas que me pareceriam infames, posto que outro assunto me ocupava a cabeça. Inércia, então, pareceu mais que uma das saídas: eis que reinava soberana no meu baú imaginário, repleto de coisas esdrúxulas.
Imaginava mil coisas. Os pedidos de desculpas, a conversa silenciosa baseada em olhares, as ofensas que inevitavelmente se levantariam (como que para amenizar a humilhação das súplicas por perdão), o argumento certeiro com o qual selaria a minha vitória... tudo. Eu finalmente falaria aquilo que há tanto permanecia entalado nas minhas entranhas, acabaria com a retenção e acalmaria as coisas com um ímpeto tão grandioso que ninguém sequer ousaria suspeitar da tempestade que outrora imperava ali.
Perfeito... Sim, a minha imaginação é foda!!!!
A minha ação é que é fudida...
E lá vou eu tropeçar nas palavras, suar frio e usar os argumentos mais pueris, que até os ursinhos carinhosos conseguiriam rebater. Eita... Lá vou eu estragar tudo outra vez. Pinto-me de bruxa, me faço um monstro, abandono a anterior postura patética pela imagem imponente, cruel e soberana de juiz, de algoz. Sua cabeça está a prêmio...
Definitivamente, as guerras que faço não são limpas. A peleja do “oito ou oitenta” impera sobre os meus argumentos. Muito ataque ou muita defesa?? Tanto faz, desde que seja MUITO!
Fazê-lo chorar vai se tornar apenas um detalhe... Pormenor que certamente vai embalar a minha culpa pela próxima década. Perceber-me chorando é, tampouco, motivo de preocupação. A cerveja me servirá de consolo.
E eu então me percebo defesa e ataque, tudo ao mesmo tempo. Ele, longe de se fazer impassível, grita, esbraveja, aprofunda os seus devaneios...
O que é o céu pra quem se acostumou a ter o caos, a ser o próprio caos materializado?
Estremeço só de imaginar o cenário árcade que habita os meus sonhos. Não... Nem os meus sonhos me servem (constatação dura de quem não aceita os seus próprios desejos e se debate contra eles...) . Mas como eu queria caber naquela paisagem... Eu nem precisaria de fato pertencer a ela... Só queria caber...
De repente, mais um rompante de fúria me desperta dos meus solilóquios silenciosos. Eu penso em uma defesa urgente... e , em vão, tento impedir o meu corpo de fazer o que teve vontade desde o início da conversa...A entrega se dá.
É tarde pra tentar qualquer tipo de estratégia... Eu me pergunto pra que tanto tempo perdido...Eu me sirvo, me deleito e, ao final, indago o motivo de mais aquela junção.
Pra quê?
Esse maldito círculo vicioso... Quando é que vamos parar de desenhar o carrossel da dor? Mais que isso: Quando é que vamos deixar de brincar nele?
Nenhum comentário:
Postar um comentário