segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Pontuando



Fracasso... É essa a palavra que tem ecoado em meus ouvidos. Sei que neste ano eu mergulhei de cabeça no universo dos textos melodramáticos, com boas doses que ideação suicida e outras coisas mais cabíveis a uma adolescente de 17 anos. Mas dessa vez... Sei não. Acho que esse turbilhão de emoções desagradáveis resolveu aparecer justo agora porque foi somente agora, neste ano, que me dei conta de uma série de questões, pessoas e acontecimentos por digerir.
Fracasso? Fracasso não!Falta de elaboração. Sempre a guisa de fechamento, sendo que o fechamento que é bom... Nada! Nunca gostei de pontos finais. Sempre me pareceram chatos e tristes. Sempre adorei reticências... Ai, esse gosto de continuidade... De coisa por dizer, por fazer, por vivenciar... Exclamações são também irmãs minhas. Lindas, longilíneas e elegantes! Quer dizer, nem sempre elegantes... Exaltadas, seria o termo correto. E como eu me identifico com o termo “exaltada”!
Interrogações? Aff... Muito presentes. Muito! E assim gosto que o sejam, sempre. Até o final dos meus dias.
Ponto seguida tem cara de “Hum, ainda vem muito mais história...”. Mas, e o ponto final? Esse cretino, maldito, que há de me pegar nas curvas da estrada, há de me impelir a cessar com meus rompantes e que me cobra incessantemente o término da repetição dos mesmos erros.  
Odeio!
Detesto a forma como ele me coage e mostra que estou errada. Não gosto que me peçam pra parar. Nem sei se consigo fazer isso... Meus freios nunca funcionam. Eu sempre preciso de mais do que evidências. Eu tenho que sentir que é hora de parar.
E dessa vez eu senti.
E, por incrível que pareça, dessa vez o ponto final me mostrou que não necessariamente acaba quando termina. A gente sempre pode começar outra aventura... Sempre dá pra escrever de novo. Não uma mesma história, mas sim outra! Completamente diferente, estupidamente parecida, mais comum, mais ou menos intensa... Como eu quiser que seja, do jeito que eu puder fazer acontecer.
Sim, acho que tô começando a gostar do tinhoso ponto final (inferno do meu passado, esperança dos meus tempos recentes). E sim: Penso que já era mais do que hora de pular do trem.




quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Os olhares, as lentes e o tempo.


Eu sempre me atraí pelos olhares. Quando criança, adorava ficar observando desconhecidos na rua, tentando adivinhar o que se passava pela cabeça deles, que história se escondia por trás de um determinado rosto, inventando formas diversas de narrar os fatos daquela vida. A expressão facial como um todo me apaixonava.

Mas eram os olhos que me faziam amar.

Era um deleite poder redesenhar os olhos dos transeuntes que eu encarava quando menina. Eu gostava de surpreender olhares alegres e imaginava milhares de outros motivos que continuariam enchendo de brilho aqueles rostos. Gostava também dos olhos tristes, embora me parecessem buracos fundos que atingissem a alma da pessoa. Acho que de alguma forma minha mente divagava até uma imagem de órbitas vazias quando via alguém muito triste. Eu não conseguia enxergar brilho e nem vida. Só côncavos profundos na parte superior do rosto... Como se realmente houvesse ali algo de macabro, algo que eu não queria ver porque parecia destoante da minha fantasia de criança.

O fato é que aqueles olhos existiam... E estavam por toda parte. Anos a fio eu me esforcei para alterar o desenho daquelas órbitas vazias. Inventava risos, floreava com borrões de afeto e somava aos finais felizes das princesas borralheiras.

É... A Disney ferrou com a minha noção de realidade! Mesmo assim o passar dos anos operou maravilhas na minha planilha quimérica e eu finalmente preteri as órbitas vazias em favor dos olhares opacos. Um momento posterior revelou que nem opacos eram... E não é que tinham brilho os tais? Era uma coisinha tímida, reprimida na maioria dos casos, mas estava lá sim.

Eu descobri isso olhando uma velha. Ela estava sentada na sala de espera de um hospital. Olhava em direção à televisão do lugar com os mesmos olhos murchos que eu me tinha habituado a ver. Depois olhou para os lados sem parecer enxergar as pessoas ao redor. Abriu a bolsa sem pressa, como quem refletisse sobre alguma coisa profunda e ao mesmo tempo procurasse romper lentamente a inércia (podia ser tão somente o peso dos anos fazendo morada nos seus músculos... Mas a imaginação nunca alcança o óbvio...).

Murmurou algumas palavras que, à distância que nos encontrávamos, eram inaudíveis e depois retirou de dentro da bolsa uns óculos com a armação partida ao meio, bem no arco sustentado pelo nariz. Ficou ali por uns sete, dez minutos, segurando as duas partes da mesma peça como quem tentasse colá-las magicamente.

Pareciam apenas objeto roto e dona inconformada...

Mas bem poderiam ser uma pessoa cansada e uma vida cheia de arestas que ficaram por aparar. É! Poderia sim! Era uma mulher que fora razoavelmente atraente em sua juventude. Tivera várias chances de tomar rumos retos, conhecera de perto o mundo tortuoso e acabou não se decidindo por viés algum. Acabara transformando sua existência num eterno esperar... Na esperança de ser chamada, na expectativa de iniciar qualquer experiência marcante, na iminência do movimento.

O tempo passou... O fogo do olhar deu lugar à fumaça de vela recém apagada. Pouca coisa restou por lutar. Muitas coisas ficaram por fazer, muitos sonhos por conceber... Sobrou o sustentáculo no qual ela amparava as lentes, estas postas diante dos olhos para justificar a sua inação. A vida inteira aqueles óculos obnubilaram a realidade à sua volta. Ela bem que pensou em retirar as lentes, mas desistiu de imediato quando percebeu que não teria ninguém mais a culpar. Melhor culpar os óculos velhos, com seus arranhões e os vidros amarelados, do que tomar para si as rédeas do seu olhar.

Eis que um dia, a armação das lentes se partiu. E ela percebeu que não importava o que fizesse para fugir à responsabilidade: Escapar dos encargos da vida também era uma escolha. Substituir a armação ao longo dos anos era encargo unicamente dela... Entretanto havia preferido esperar que o mundo se moldasse às lentes que usava .... Os óculos foram ficando velhos e o mundo nunca se curvou diante deles.

E ainda assim havia brilho naquele olhar... Não sei explicar o porquê. Deve ser algo ligado a uma esperança de que as coisas se consertem... Ou ao desejo de reparar os óculos para que unicamente ela possa quebrá-los, jogá-los no chão com violência, se permitir um rompante de fúria que destrua aquelas lentes.

Ela... E não mais o tempo.

terça-feira, 31 de maio de 2011

E lá se vai mais um dia...

Uma necessidade tão grande...Necessidade de ser ouvida, de ser acolhida, de ser amada. E como eu tenho me sentido mal amada nestes últimos tempos. Não que os meus tenham de fato me renegado, me jogado às traças, me trancafiado num mausoléu ou algo parecido. Mal amado é antes um estado de espírito. Tem a ver com a maneira como você significa os afetos ao seu redor. E tenho me sentido assim... Mesmo cercada de gente pra me fazer feliz.
É só que eu não tenho conseguido fazer feliz a mim mesma. Por que será?


 PS.:Eu bem que tentei continuar escrevendo acerca disso mas, ao invés de sucesso, acumulei insônia no meu colchão e mosquitos no meu pensamento. Ficarão coisas por dizer, reflexões pendentes... Não consigo me analisar agora... Acho que não seria uma experiência indolor. E dor no momento é o que menos preciso. Por que não existe remédio pra TP Visceral???

Estava ouvindo enquanto escrevia... 


segunda-feira, 16 de maio de 2011

Embarque nesse carrossel!

Esperar arde. O meu corpo parecia pegar fogo, pateticamente inerte, jogado no sofá. A vontade era de me atirar em qualquer buraco, correr os riscos, me aventurar. Faltava-me coragem, entretanto. Era mais fácil ficar ali, parada, olhando o momento passar. Eu sabia que isso me daria tempo de manipular as circunstâncias ao meu redor. Poderia pensar com mais clareza, planejar as palavras, a arte da gesticulação e imaginar detalhe por detalhe. Arrumar o que fazer naquele instante só me aborreceria. Tentaria, pois, fazer um zilhão de coisas que me pareceriam infames, posto que outro assunto me ocupava a cabeça. Inércia, então, pareceu mais que uma das saídas: eis que reinava soberana no meu baú imaginário, repleto de coisas esdrúxulas.

Imaginava mil coisas. Os pedidos de desculpas, a conversa silenciosa baseada em olhares, as ofensas que inevitavelmente se levantariam (como que para amenizar a humilhação das súplicas por perdão), o argumento certeiro com o qual selaria a minha vitória... tudo. Eu finalmente falaria aquilo que há tanto permanecia entalado nas minhas entranhas, acabaria com a retenção e acalmaria as coisas com um ímpeto tão grandioso que ninguém sequer ousaria suspeitar da tempestade que outrora imperava ali.
Perfeito... Sim, a minha imaginação é foda!!!!

A minha ação é que é fudida...

E lá vou eu tropeçar nas palavras, suar frio e usar os argumentos mais pueris, que até os ursinhos carinhosos conseguiriam rebater. Eita... Lá vou eu estragar tudo outra vez. Pinto-me de bruxa, me faço um monstro, abandono a anterior postura patética pela imagem imponente, cruel e soberana de juiz, de algoz. Sua cabeça está a prêmio...

Definitivamente, as guerras que faço não são limpas. A peleja do “oito ou oitenta” impera sobre os meus argumentos. Muito ataque ou muita defesa?? Tanto faz, desde que seja MUITO!

Fazê-lo chorar vai se tornar apenas um detalhe... Pormenor que certamente vai embalar a minha culpa pela próxima década. Perceber-me chorando é, tampouco, motivo de preocupação. A cerveja me servirá de consolo.

E eu então me percebo defesa e ataque, tudo ao mesmo tempo. Ele, longe de se fazer impassível, grita, esbraveja, aprofunda os seus devaneios...

O que é o céu pra quem se acostumou a ter o caos, a ser o próprio caos materializado?
Estremeço só de imaginar o cenário árcade que habita os meus sonhos. Não... Nem os meus sonhos me servem (constatação dura de quem não aceita os seus próprios desejos e se debate contra eles...) . Mas como eu queria caber naquela paisagem... Eu nem precisaria de fato pertencer a ela... Só queria caber...

De repente, mais um rompante de fúria me desperta dos meus solilóquios silenciosos. Eu penso em uma defesa urgente... e , em vão, tento impedir o meu corpo de fazer o que teve vontade desde o início da conversa...A entrega se dá.

É tarde pra tentar qualquer tipo de estratégia... Eu me pergunto pra que tanto tempo perdido...Eu me sirvo, me deleito e, ao final, indago  o motivo de mais aquela junção.
Pra quê?

Esse maldito círculo vicioso... Quando é que vamos parar de desenhar o carrossel da dor? Mais que isso: Quando é que vamos deixar de brincar nele?

segunda-feira, 2 de maio de 2011

L.E.R.




A vontade de morrer ainda persiste. Aliás, morrer não. Porque morrer implica em ter existido e é esse um dos principais martírios que me fazem querer morrer: a existência. Ela é dura, cruel e pesada. A maioria vai me julgar frívola, mesquinha e egoísta por não apreciar as ditas qualidades dessa tal bem-aventurança de viver. Eu discordo. Não que também eu não tenha meus momentos de felicidade. Pelo contrário... Eu os tenho. Os tive mais no passado e os tenho cada vez menos no presente e é, quem sabe, isso o que mais julgo detestável.

Não gosto dessas resoluções cíclicas. Essa ordem do mutável, na grande maioria das vezes, me desagrada. O sorriso de hoje é o choro de amanhã... e vice-versa. Por isso critico essa tal maravilha que as pessoas vêem em viver. Os risos, será que são mesmo verdadeiros esses tais?? Ou serão apenas movimentos estereotipados que nos acostumamos a esboçar?? Pode ser o choro digno da mesma nota... Este é, quem sabe, manifestação necessária, como que para nos lembrar de que sentimos, padecemos também apesar do cotidiano intrigante,  que nubla elaborações e se escancara para conversas fúteis em redes sociais. 

Mas, não sei... E como essa frase me tem perseguido... Faço das dúvidas constantes o utensílio sagrado com o qual me firo diariamente. Cavei brechas em mim mesma. E estas estão cada vez maiores... Acostumei-me ao serviço diário de me machucar. As lesões por esforço repetitivo não me impediram de cavar mais fundo. Cravei farpas, rancores, desesperança no meu peito de tal modo que hoje, quando finalmente me dou conta do estrago que fiz, não mais consigo deter o comportamento recorrente de me ferir...

É, quem sabe, tarde pra conseguir me livrar de tudo isso... Do amor, dos dias alegres... Do ódio e do ressentimento os quais, segundo julguei do alto da minha incongruência patética, me livrariam da aspereza que é o término de uma relação. O amor é ridículo.

O ódio também. Ninguém que odeie outrem pode dizer que odeia tanto que sequer nota a presença de seu rival. Não. Pelo contrário, a indiferença representa acima de tudo o oposto do amor. Mas o ódio... Ah, o ódio... Este foi forjado no aço do “se importar”, mamou nas tetas do “envolver-se” e cresceu em mim em meio a veias e artérias coronárias. Como extirpá-lo agora??

O amor nunca deveria se converter nesse monstro terrível... Amar é lindo, sublime, mágico... O único demérito que possui e ter sido colocado no peito de reles seres humanos. E seres humanos, ah... Francamente.  Sempre vamos prostituir o verbo amar. Talvez não por pura e simples incompetência afetiva, e sim pelo fato de não sermos divinos e perfeitos. Todo mundo erra, todo mundo ri e chora e, cedo ou tarde, todo mundo se apaixona. Aliamos o sentimento mais sagrado do universo às nossas excretas, nós o mergulhamos no ciúme, na intolerância, na dependência... Depois vomitamos tudo isso... E ainda sobra espaço pra confundir o amor com a paixão, a liberdade oferecida com um “Não estou nem aí pra você”, o ser traído com um pretexto para trair também.

Eu sinceramente gostaria de expurgar as peculiaridades que atrapalham o meu exercício pleno do amar... Sentir esse cheiro podre saído de mim ainda dói. É difícil reconhecer as nossas limitações e, no meu caso, sempre me utilizei da negação para dopar os mais pútridos dejetos emocionais, impedindo que eles viessem à tona.

Entretanto eles vieram. E não foi por qualquer tipo de maturidade ou iluminação, não! Não fui eu quem os convidou a passear pelos meus dias. Eu sei é que um dia, eles simplesmente saíram... Explodiram! Deixaram-me nua, rasgaram minha carne e se esfregaram diante dos meus olhos pra que pudessem, enfim, se fazer vistos.

E eu os vi. Os meus principais demônios... Às vezes em que deixei a desejar por preguiça, o pedido de perdão que não consegui arrancar dos meus lábios, o excesso de palavras esdrúxulas para ofender a quem quer que fosse, a falta de tato para lidar com a frustração, o meu ciúme, o rancor, o cinismo, a manipulação...

Eu! Reles, ignóbil, obtusa, inexata, assimétrica e louca. Eu não sei amar, não! As coisas sempre extrapolam o limiar do natural. Sempre fui intensa, exagerada mesmo, em tudo o que faço e essa minha característica provavelmente ainda há de me render rugas e cabelos brancos. Amo agressivamente, odeio pecaminosamente, vomito minhas emoções, aponto o dedo e lanço ao rosto do meu interlocutor todas as suas faltas. Não há relacionamento, nem pessoa que consiga escapar ao meu julgamento. Por isso reclamo em demasia, estouro os tímpanos de quem estiver comigo, gasto o tempo das pessoas exigindo que elas me escutem, culpo a mim mesma, tomo para mim a responsabilidade pelo fracasso e, por fim, somatizo.

Bem previsível... Bem eu! A verdade é que há uma grande contradição no meu discurso. Se por um lado tenho ganas de limar os meus rancores, amores e dissabores, por outro tenho medo da queda a qual eu seria impelida pelo simples extirpe. Como me erguer? E como colar os cacos abandonados sobre a calçada suja? E como parar a minha máquina de autodestruição, mostrando a ela que nada mais há para destruir?

Tal é o meu medo que chego a pensar que de nada vale ceder coisa alguma em benefício de outrem. Dane-se o meu todo social! Deixem, pois, em paz os meus dejetos! Serei inflexível, serei forte, serei um cubo de gelo, serei uma mulher de 24 anos que se permite usar os outros sem culpa, serei alguém que jamais vai se apaixonar de novo... Serei alguém que não mais possui defeitos a serem erradicados, serei alguém que não se importa... Serei assim...E não serei mais eu.